RELATÓRIO DE PESQUISA

Cursos híbridos ou blended: o que são e pra quem servem?

LIBÂNIA PAES | 2016

PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENHO INSTRUCIONAL

Os chamados cursos híbridos ou blended combinam conteúdos presenciais e à distância. Pela definição, qualquer programa que tenha instruções em sala de aula e por meio eletrônico poderia se candidatar ao título. Entretanto, alguns modelos os diferenciam de uma simples disposição de conteúdos nos dois formatos aos alunos.

Um deles é o da sala de aula invertida. O princípio é simples. No ensino tradicional, o aluno assiste o conteúdo na sala de aula e faz exercícios de fixação em casa. A inversão leva o conteúdo expositivo ao aluno de forma eletrônica – por vídeos, textos e áudios. Ele “assiste” à aula em casa e vem à sala para realizar atividades, fazer discussões e tirar dúvidas. Você encontra uma lista de boas referências no meu trabalho final da Especialização em Desenho Instrucional.

Agora, na prática... Desde 2011, tenho uma disciplina no Curso de Especialização em Administração Hospitalar da FGV/EAESP no modelo híbrido. Ao longo dos anos, fui coletando percepções sobre como esse público, mais maduro, recebe este formato. Em 2017, fizemos, eu e outros professores, também na mesma organização, uma disciplina de Lógica de Programação para o curso de graduação em Administração de Empresas. Este público, no segundo semestre de curso e muito mais jovem, apresentou muitas semelhanças com os mais sêniores.

A principal delas é que aluno é sempre aluno: ele só vai fazer o que for obrigatório... :-) Na prática, a grande maioria dos alunos de ambas as turmas não via os vídeos dentro do calendário sugerido. E, claro, chegavam para as aulas despreparados. Se fossem minoria, o professor poderia deixar que eles “se virassem”. Mas não eram.

Criar um mecanismo de cobrança diária de conteúdo poderia ser uma forma de convencê-los a trabalhar em casa, mas quebraria todas as outras dinâmicas de aula. Pelo menos as minhas dinâmicas.

Outra característica comum entre vários dos alunos era o ambiente de estudos. Muitos me disseram que “viam” os vídeos, mas não retinham o conteúdo. Ambas as disciplinas eram voltadas para a área de tecnologia, em que não adianta apenas “ver”: é necessário colocar a mão na massa. E alguns deles me confessaram que tinha “ouvido” o conteúdo no trajeto entre o trabalho e a escola.

Apesar das experiências, eu ainda gosto do formato híbrido e acho que pode ser utilizado. Talvez não em cursos regulares e especializações. Talvez em programas onde o aluno esteja buscando apenas o aprendizado e não também o título (não estou dizendo que alunos de graduação e pós não buscam o conhecimento! Apenas que o diploma e o dia a dia “competem” um pouco!). Talvez para um público que consiga e goste de ser autodidata. E que tenha tempo e disciplina suficientes para estudar de verdade em casa.

Nos cursos híbridos, o instrutor faz um papel de curador e moderador. É também um perfil diferente daquele mestre de sala de aula. Para muitos temas, este último ainda é o melhor: nada substitui um grande professor e sua interação com a classe. Mas para treinamentos técnicos e de fácil aplicação, o blended pode ser uma grande opção. O desafio é conseguir aplicar.